O papel do hipofracionamento na radiodermite em doentes com cancro de mama foi o tema em debate na primeira sessão da AEOP15, moderada por Helena Fanica, enfermeira do Hospital de Évora.
No entender de Jorge Buedo García, enfermeiro espanhol responsável pela área técnico-sanitária da ASCIRES (Valência), o hipofracionamento – que consiste na aplicação de uma dose diária mais elevada, em menos sessões, com maior precisão – configura uma “mudança de paradigma” na radioterapia, permitido pelos enormes avanços tecnológicos ocorridos nesta área nos últimos anos.
De acordo com o primeiro preletor desta sessão plenária, o fracionamento-padrão é “de 180-200cGy, 1 fração/dia, 5 dias por semana, sendo o mais utilizado na clínica por obter o melhor índice terapêutico na maioria dos tumores”.
“Ao hipofracionarmos, a eficácia do tratamento nunca é comprometida”, sublinhou o enfermeiro, acrescentando que o hipofracinamento apresenta os mesmos resultados para a sobrevida específica da doença, livre de metástases e global, bem como benefícios em tumores com baixa relação α/β.
Com a utilização desta prática, concluiu Jorge Buedo García, consegue-se diminuir o número de sessões de tratamento, melhorar a qualidade de vida dos doentes e reduzir os efeitos secundários em órgãos de risco saudáveis próximos à lesão.
Também Elisabete Soares, enfermeira do IPO do Porto e coordenadora WG OncoRadioterapia, vê no hipofracionamento uma verdadeira mudança de paradigma no tratamento da radiodermite em doentes com cancro de mama. Porém, e apesar dos seus benefícios, esta ainda não é uma prática generalizada nos centros de radioterapia a nível nacional.
“O retrato do nosso país mostra que, à exceção da Fundação Champalimaud, ainda estamos na cauda do que já se faz na Europa, em termos de hipofracionamento”, adiantou a preletora, identificando alguns dos aspetos que podem ser melhorados, no sentido de “apanhar este comboio”.
Desde logo, a implementação formal e bem estruturada de consultas de enfermagem em todos os centros de radioterapia, bem como o “empoderamento” dos enfermeiros nesta área. “Algo que nem sempre é possível, dado o baixo ratio de recursos humanos de enfermagem nestes serviços”, lamentou. Igualmente fundamental, defendeu Elisabete Soares, é que os enfermeiros mudem o seu mindset, procurando investigar e conhecer para depois aplicar na prática. “Não faz sentido que na consulta de enfermagem estejamos a tratar da mesma forma doentes que fazem hipofracionamento e doentes que não o fazem. A intervenção tem que ser diferente”, sublinhou.
Ainda essencial, na ótica da enfermeira do IPO do Porto, é proceder a um follow-up robusto do doente, onde ferramentas como a tele-enfermagem se revestem de enorme utilidade, concluiu.
À última palestrante da sessão coube abordar a importância e o impacto da reabilitação na qualidade de vida dos doentes submetidos a radioterapia. Rosa Ascensão, enfermeira do IPO do Porto, salientou que a reabilitação deve estar presente em todo o percurso de doença/tratamento oncológico, o mais precocemente possível. “Quanto mais tempo os doentes estiverem imobilizados, mais difícil vai ser a recuperação. A reabilitação também é uma forma de empoderar o doente e dar-lhe a oportunidade de colaborar e controlar, em certa medida, uma fase do seu processo de tratamento”, referiu a palestrante.
No que respeita ao hipofracionamento no cancro da mama, Rosa Ascensão mencionou que se trata de “uma modalidade em transformação que exige rigor e atenção”. Neste sentido, concluiu que “é urgente desenvolver investigação em enfermagem para avaliar o impacto desta modalidade na qualidade de vida dos sobreviventes”.