Foi sob a égide da inovação que decorreu a segunda sessão plenária da AEOP15, dedicada à temática da transplantação de medula óssea com células CAR-T e que foi moderada pelas enfermeiras Alice Monteiro (IPO do Porto) e Elsa Oliveira (IPO de Lisboa).
A elegibilidade e colheita de linfócitos mereceram destaque na apresentação de Cátia Romeiro, enfermeira do Serviço de Terapia Celular do IPO do Porto, que começou por explicar que as células CAR-T (recetor de antígeno quimérico) são o equivalente a dar aos doentes “uma droga viva”.
São critérios de elegibilidade para este tratamento doentes com “doença ativa após, pelo menos, duas linhas de tratamento, idade inferior a 70 anos, ECOG no mínimo 1 e presença de massas de dimensão inferior a 5 cm”, explicou a oradora, apontando também os critérios de exclusão, que consiste na presença de mais do que um dos seguintes critérios: massas de dimensão superior a 5 cm, LDH e PCR elevadas e disfunção hepática, renal, pulmonar ou cardíaca. Quanto à tomada de decisão, explicou, faz-se “com base na rapidez de produção e na toxicidade”.
A Fátima Penim coube falar sobre o processo de administração das células CAR-T e a gestão de complicações imediatas. A enfermeira da Unidade de Transplante de Medula do IPO de Lisboa sublinhou a importância e obrigatoriedade da presença de um cuidador desde o início do processo e lembrou que “até à infusão das células é muitas vezes necessário fazer terapêuticas de ponte”. A quimioterapia de linfodepleção – que vai regular os linfócitos em circulação para potenciar o tratamento com células CAR-T – é um dos momentos em que a presença do cuidador é crucial, salientou a preletora.
No entender de Fátima Penim, a existência de “uma equipa de enfermagem focada e treinada para o despiste precoce de complicações imediatas, em colaboração com a restante equipa multidisciplinar, favorece a identificação precoce de complicações e uma intervenção imediata, assim como previne a evolução para formas mais graves”.
O papel central do cuidador no âmbito de um programa com células CAR-T também foi destacado pelo mais jovem elemento da equipa de enfermagem da Unidade de Transplante de Medula do IPO de Lisboa, a enfermeira Patrícia Pinheiro, que falou do follow-up destes doentes e dos resultados da experiência com este tratamento na sua instituição.
Segundo a palestrante, “o follow-up é obrigatório até ao 30º dia da infusão” e as complicações mais frequentes e prolongadas no tempo são a hipogamaglobulinemia, a neutropénia e a reativação do CMV. Passados os 30 dias, o doente vai para o domicílio e é seguido aos 3, 6, 9 e 12 meses e anualmente até aos 15 anos após receber as células CAR-T.
De acordo com Patrícia Pinheiro, os resultados da experiência do IPO de Lisboa mostram que este é “um tratamento promissor, na medida em que dos 13 doentes infusionados desde 2019, nove estão em remissão total da doença”. Atualmente, nesta instituição, há três doentes a aguardar infusão e quatro fármacos disponíveis para tratamento com células CAR-T.
Em jeito de conclusão, a enfermeira sustentou que “a imunoterapia celular vem dar uma resposta aparentemente promissora para um conjunto de doentes que até então não tinham alternativa terapêutica. A motivação e o empenho da equipa multidisciplinar em todo este processo contribui para o sucesso do mesmo”.